
O Tempo que Nos Escapa: o Intrínseco Fracasso do Sucesso
Certa vez, minha filha me pegou de surpresa.
“Papai, por que temos que ir pra escola 5 dias na semana e só 2 dias para o fim de semana? Isso não é justo.
Crianças fazem perguntas assim o temp todo, e os adultos costumam ignorá-las colocando-as na “conta da ingenuidade” com respostas do tipo: “Ah, filha, seria bom se fosse assim, mas a vida é dura. No mundo real, o trabalho ocupa mais tempo que a diversão”.
Tive também essa reação inicial. Mas pensando bem, logo percebi que a pergunta não tinha nada de ingênuo.
Estamos numa era em que as conquistas tecnológicas permitem realizar projetos que antes pareciam possíveis apenas em histórias de ficção científica. Então, é mais do que legítimo perguntar: como é possível que, em pleno século 21, trabalhemos mais pelo próprio sustento do que nossos ancestrais neolíticos?
Teoricamente, a grande invenção humanidade foi a agricultura. Com ela e a domesticação de animais, tornou-se possível acumular provisões, criar um excedente e, com isso, ganhar mais tempo livre.
Mas não foi o que aconteceu. E, não, não venham me dizer que a culpa foi da explosão populacional.
O problema é que a humanidade nunca foi boa em distribuir riquezas.
Nossa biologia favorece a empatia com pequenos grupos, mas essa generosidade enfraquece quando o grupo cresce.
Antropólogos dizem que o “número mágico”, de pessoas com quem
conseguimos manter laços empáticos, fica entre 60-100 pessoas. Acima desse número, surgem divisões, e o famoso “nós contra ele”entra em cena.
Não vou me aprofundar em antropologia ou darwinismo, mas minha filha tem razão em sua intuição. Por que – depois de tanta tecnologia e riqueza – ainda trabalhamos na escala “cinco por dois”? (não vou nem menciona a existência da fome e miséria no mundo).
Claramente, a humanidade fracassou em algum ponto no meio do caminho…
A ironia disso tudo a seguinte: mesmo os super ricos, que concentram a maior parte da riqueza mundial, não são exatamente mestres em gestão do tempo.
Pense na vida dos cinco homens mais ricos do planeta.
Em teoria, eles têm toda a liberdade do mundo para desfrutar de todo o tempo livre que quiserem, para viver o que minha filha sugeriu: dois dias de trabalho para cinco de lazer. Mas, após escalarem a “escada do sucesso”, essa liberdade parece desaparecer.
Hipoteticamente, eles poderiam fazer qualquer coisa, mas na prática tornaram se prisioneiros de seu próprio imaginário social. Já não sabem – como qualquer pessoa comum poderia ensinar – desfrutar do simples prazer do ócio, do simples prazer de estar no mundo sem fins lucrativos…
Lembro de uma cena recorrente da minha infância. Meu pai me levava para tomar sorvete, e eu nunca me contentava com apenas um. Era tanto prazer, tanta alegria. Queria não apenas um, mas dois, dez sorvetes de manga, mangaba, amendoim!
Diante da recusa da “sabedoria adulta” e da impossibilidade do prazer infinito, eu jurava: “quando for adulto, tomarei tantos sorvetes quanto eu desejar!”
Lembrei outro dia dessa cena e não pude senão sorrir. Nunca cumpri a promessa…
Hoje, adulto, posso comprar e tomar quantos sorvetes quiser, mas já não ma os desejo…
E fica a pergunta: de que serve o poder quando se perdeu a capacidade de desejar?
No final, respondi para minha filha: “Filha, concordo plenamente com você. Essa divisão do tempo realmente não é boa. Talvez agora a gente não consiga muda isso, mas nada nos impede de tentar, com nossas escolhas futuras, encontrar um equilíbrio melhor. O que você acha?”
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Veja, se você sente que está preso em expectativas externas ou na falta de direção, não precisa enfrentar isso sozinho.
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